Detentas confeccionam polvos de crochê para bebês internados no HSC

O projeto Meu Amiguinho dos Sete Mares, do Hospital Santa Cruz, motivou um grupo de detentas do Presídio Regional de Santa Cruz do Sul a confeccionar pequenos polvos de crochê para as crianças recém-nascidas internadas na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) da casa de saúde. Os polvinhos são utilizados como recurso terapêutico, transmitindo tranquilidade e proteção ao recém-nascido durante o seu processo de recuperação.

A iniciativa partiu da psicóloga do presídio Paula da Rosa Cazarotto, responsável também pelo atendimento ao público feminino. Segundo ela, o setor técnico do estabelecimento, composto por mais uma psicóloga e duas assistentes sociais, e a equipe da Unidade de Saúde Prisional buscam constantemente envolver as detentas em atividades que as ocupem para auxiliar no cumprimento da pena e tornar o ambiente prisional menos tenso, além de atender à Lei de Execução Penal (LEP) que prevê, como direito dos presos, participar de atividades de trabalho, educacionais etc.

“A Lei diz que, a cada três dias trabalhados, o preso subtraia um dia de pena”, explica a psicóloga. “Diante disso, as solicitações de liga laboral, como são chamadas as atividades de trabalho nos estabelecimentos prisionais, são bastante requisitadas pelos presos nos atendimentos”, acrescenta.

Paula conta que algumas das mulheres recolhidas no Presídio Regional estavam sem realizar alguma atividade laboral com o benefício da remição. Também era uma solicitação delas, nos atendimentos, a autorização para receber materiais como linhas de crochê e lã para confeccionarem peças para filhos, netos etc. “Ao ver uma matéria no jornal sobre o projeto do Hospital Santa Cruz, logo pensei: por que não unir o útil ao agradável?”.

A psícóloga, então, elaborou o projeto e recebeu o apoio da direção do presídio. Em seguida a ideia foi levada à equipe do HSC e, da conversa, surgiram outras demandas como roupas, meias e demais utilidades de lã para os pacientes que chegam sem condições financeiras. O projeto foi apresentado na reunião mensal do Conselho da Comunidade, que aprovou e realizou a liberação de verba para a compra do material.

O número de detentas envolvidas no projeto varia, devido à rotatividade, mas é de duas a seis mulheres. Aquelas que já sabiam crochê e tricô se prontificaram a ensinar as demais interessadas. Os polvos são feitos com base nas especificações divulgadas pelo Hospital. “Muitas delas possuem habilidades incríveis”, elogia Paula. “As meninas que produziram os materiais doados fazem peças de crochê como trilhos, toalhas e conjuntos para banheiro”, destaca.

Paula diz ainda que a receptividade tem sido muito positiva por parte das detentas. “Sempre que há algo novo existe a motivação, a empolgação, nossa e delas”, frisa. “Ao ver todo esse trabalho pronto, algumas presas que vêm chegando já se interessaram em dar continuidade ao projeto”.

Ao saber da repercussão do trabalho, uma das detentas não escondeu a surpresa. “Não esperava por isso! Fiquei sem palavras!”, reagiu ela. “A gente sabe que quando se fala de preso lá fora, as pessoas criticam. Fiz por uma causa beneficente, para ajudar as crianças e também para me ocupar com coisas boas aqui”, relatou.

Os polvinhos de crochê
Conforme a coordenadora da área materno-infantil do Hospital, enfermeira Lis Spat, a intenção de utilizar os polvinhos de crochê é que, quando abraçados pela criança, os tentáculos remetam ao cordão umbilical e causem sensação de segurança parecida com a do útero materno. A ideia surgiu na Dinamarca, em 2013, onde a prática constatou uma melhora significativa nos sistemas respiratório e cardíaco dos bebês que receberam o brinquedo.

“Além da estabilização da frequência cardíaca e respiratória dos recém-nascidos, esta ação produz outros benefícios, como redução da agitação motora, diminuindo assim a retirada acidental dos dispositivos terapêuticos”, explica Lis. “Também acelera o ganho de peso do bebê e incentiva pais e mães a participar do processo de hospitalização do seu filho”, complementa.

A enfermeira salienta que o brinquedo atende a uma série de cuidados e orientações específicas referentes ao tamanho, material utilizado e manutenção, além de mecanismos para controle de infecção. Cada polvo é de uso único e, na alta, o mesmo pode ser levado para casa com o intuito de auxiliar o bebê a adaptar-se à mudança de ambiente. Por isso há a necessidade de doações.

O projeto conta com a participação das equipes da UCI, da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica, da Residência Multiprofissional em Saúde e da Residência Médica em Pediatria. Todo o trabalho é desenvolvido a partir de doações da comunidade.