ARTIGO: Era uma vez na UTI

Quando o Arthur, meu fIMG_1153ilho mais novo, nasceu, o primeiro lugar para onde foi levado foi a UTI Neopediátrica do Hospital Santa Cruz. Foi lá que começamos a nos conhecer. E foi lá que fomos descobrindo juntos que a vida não seria exatamente como tínhamos planejado, que teríamos que replanejar, ou melhor, aprender a não planejar muito.

A gente vive uma rotina diferente quando está no hospital, mas quando moramos na mesma cidade temos familiares e amigos por perto pra ajudar a resolver a vida. Muitas mães, no entanto, vêm de longe e não tem ninguém pra partilhar suas angústias, o cansaço, a rotina; especialmente mães de bebês pequenininhos e frágeis, que tiveram pressa para nascer.

Aprendi, no decorrer de anos de idas e vindas para o hospital com o Arthur, que quando cabeça de mãe fica cansada, muitos pensamentos que não são legais passam por ela. Por isso, inicialmente para ocupar minha cabeça, sempre li muitas histórias e cantei muitas canções para ele.

Ao ver, por muito tempo, outras mães a partilhar aquele espaço e tempo com seus pequenos apressadinhos, sem poder dar colo para seus pacotinhos de amor, pensei que, se elas pudessem contar histórias, poderiam estreitar os laços de afeto, bem como se sentirem mais potentes, podendo fazer algo para seus filhos e com eles. Foi com esse desejo, de ampliar a conexão entre as mães e seus filhos, que nasceu a ideia do Espaço Era uma Vez. É uma ideia singela, mas que pode transformar a vida das pessoas que se permitirem pegar um livro e ler para seus pequenos, pois a leitura de histórias tem esse poder mágico de unir pessoas, de ampliar o mundo e semear afetos, pois quando lemos uma história para outra pessoa, damos a ela o nosso bem mais precioso, a nossa presença e o desejo de estar junto.

Penso que contar histórias para nossos filhos é um modo de estarmos juntos, de partilhar o tempo e o espaço. Não há presente maior que a partilha do tempo. Estar aqui e agora e acarinhar seus sentidos, se não por meio do toque na pele, através de palavras que chegam aos ouvidos, contando contos e cantando cantos.

Léla Mayer é mãe do João e do Arthur, professora do Curso de Fisioterapia da Unisc, Fisioterapeuta, Pedagoga, Escritora e Contadora de Histórias.